Sexo e morte

A cauda de alguns pavões são uma dor-de-cabeça para os biólogos. Quanto mais bela é a cauda de um pavão, mais as fêmeas são atraídas por ele; no entanto, esta plumagem exuberante e colorida também funciona como um chamariz para os predadores. É como se o pavão tivesse um cartaz com duas mensagens: num lado diz “mulher, olha para mim. Sou tão bonito!”, enquanto que no outro lado diz “predadores, estou aqui! Não me vêem?”.

A seleção sexual apresenta por isso uma evolução própria quando comparada com a seleção natural. A seleção natural deveria ter eliminado estas características morfológicas excêntricas, mas não o fez. Por causa disso, espécies onde ocorre a seleção intersexual (onde a fêmea escolhe o macho, como nos pavões) são as espécies onde os machos apresentam maior risco de morte: os machos precisam de ornamentos belos para serem escolhidos por as fêmeas, mas esses mesmos ornamentos podem colocar em perigo a sobrevivência dos machos que os possuem.

Alguns alces também apresentam chifres excessivamente longos. Ora, para as fêmeas da espécie significa que esses machos com chifres longos são um “bom partido” porque podem defender melhor as crias, mas ao mesmo tempo os chifres mais exuberantes e longos podem ser um impedimento quando se foge de predadores (são demasiado pesados e consomem muita energia) e muitas vezes os alces também ficam presos nas árvores por causa deles.

Parece que o sexo é mais importante que a morte, ou seja, a seleção sexual é mais importante que a seleção natural. Estas características que colocam em risco a sobrevivência dos machos continuam a ascender em probabilidade de os descendentes as virem a ter, por causa da ”banheira genética” que se está a criar nestas espécies.

As fêmeas escolhem os machos que têm as características que mais colocam a sua vida em risco. Será que elas querem crias desse macho porque sabem que é que aquele que apresenta mais probabilidades de vir a morrer? Ou será que escolhem-nos porque se eles sobreviveram muito tempo com essas caraterísticas só pode significar que são bons, fortes e desembaraçados?

É um grande mistério da ciência. Já sabemos que só estamos neste mundo para passar os genes à próxima geração, mas isto abre um capítulo novo nesta história. Parece que a vida gira à volta das fêmeas e os machos são apenas a “carne para canhão”.

Existem muitas teorias que tentam explicar este mistério, mas coloco abaixo apenas as duas que parecem ser as mais credíveis. Para mim, a primeira teoria é a mais provável; no entanto, penso que as mulheres preferem a segunda teoria para explicar este mistério.

Retroalimentação positiva

A fêmea do pavão deseja sempre acasalar com o macho mais atraente. Assim, os machos da sua prole serão atraentes para as fêmeas da próxima geração. Além disso, os machos tentarão copular com aquelas fêmeas que os achem atrativos, assim as fêmeas de sua prole manterão a preferência pelo seu padrão de ornamentação na geração seguinte. Dado que a taxa de mudança na preferência é definida pela maior nível de preferência médio entre as fêmeas, e que os machos desejam ser melhores do que os outros machos, haverá um efeito aditivo no processo cíclico que vai levar a crescimentos exponenciais em ambos os sexos, desde que não seja bloqueado por outra limitação. É como um carro sem travões.

Sabotagem da fêmea

O acasalamento permite às fêmeas a oportunidade de sabotar machos polígamos, acasalando apenas com aqueles que exibam características que coloquem sua vida em risco. Como machos tendem a morrer mais devido a suas ornamentações, lutas e rituais de corte, sua redução em número permite que haja mais alimento e outros recursos para as fêmeas e sua prole, além de reduzir a pressão de predação sobre elas. Como as fêmeas são o sexo limitante na maioria das espécies, o aumento no número de fêmeas permite um aumento no sucesso da população como um todo. Para além disso, com o macho morto, as fêmeas podem procurar outro e aumentar as suas hipóteses de deixar descendência.