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Reino dos céus tecnológico

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Reino dos céus tecnológico Empty Reino dos céus tecnológico

Mensagem por Jonas Paulo Negreiros 4th julho 2022, 11:28

Reino dos céus tecnológico
Rogério da Costa
especial para a Folha

São Paulo, domingo, 02 de dezembro de 2001
[antigo, mas atual...]

O livro de Margaret Wertheim, "Uma História do Espaço de Dante à Internet", brinda o leitor com um belo levantamento sobre as concepções ocidentais do espaço desde a Idade Média até nossos dias de ciberespaço. Descrevendo o espaço medieval de Dante Alighieri (1265-1321), passando pela cosmologia newtoniana e pela revolução matemática que resultou na concepção de hiperespaço no século 20, a autora encerra seu texto com três capítulos dedicados ao ciberespaço.

Fica evidente que, muito mais do que uma simples história do espaço, o que a autora procura é um paralelo entre a pluralidade de conceitos de espaço produzidos pelos homens e a imagem que eles têm de si mesmos, de seu lugar e papel no mundo em que vivem ou, como ela mesma afirma, "nossa concepção de nós mesmos está indelevelmente ligada à nossa concepção do espaço (...), povos que se vêem como implantados no espaço tanto físico quanto espiritual só podem se ver a si mesmos de maneira dualista, como seres físicos e espirituais".

O leitor poderá perceber, no entanto, que o que move principalmente a autora, desde as primeiras páginas de seu texto, é uma necessidade de compreensão crítica a respeito do ciberespaço. Segundo ela, essa dimensão digital estaria sendo investida por visões celestiais e salvadoras: "Os promotores atuais do ciberespaço apregoam seu domínio como um reino idealizado "acima" e "além" dos problemas de um mundo material conturbado. Exatamente como os cristãos primitivos, prometem um porto "transcendente", uma arena utópica de igualdade, amizade e poder. O ciberespaço em si mesmo não é um construto religioso, mas, como sustento neste livro, uma maneira de compreender esse novo domínio digital é vê-lo como uma tentativa de construir um substituto tecnológico para o espaço cristão do céu".
A autora afirma que sua intenção é procurar entender por que tantas pessoas têm idéias religiosas a respeito do ciberespaço, por que alguém é levado a pensar nesse domínio digital em termos espirituais.

Visão cristã secular Evocando nomes como o de William Gibson, Negroponte, Nicole Stenger, Kevin Kelly, Sherry Turkle, Howard Rheingold entre outros, Wertheim procura nos mostrar o quanto algumas das afirmações desses autores não passariam de visões cristãs seculares reembaladas num formato tecnológico. Daí sua preocupação em nos mostrar algumas das várias versões históricas dos espaços religiosos, Dante em primeiro lugar, para que possamos compreender o paralelo com o nosso ciberdualismo de "corpo sentado diante do computador" versus "mente navegando no ciberespaço". Sua crítica aos sonhos e visões que povoam o ciberespaço poderia ser resumida em três aspectos: os jogos psicossociais, a imortalidade religiosa e as ciberutopias.

O primeiro aspecto critica aqueles que acreditam que o espaço das redes seria propício à proliferação de "eus", seja na forma de avatares ou simplesmente nas salas de bate-papo, onde encontramos inversões de gêneros e mudança de papéis sociais. É uma espécie de crítica à alienação de nossa própria identidade.
O segundo aspecto critica aqueles que querem livrar-se do lastro da materialidade, que desejam transcender o corpo. O exemplo clássico é o do especialista em robótica, Hans Moravec, que pensava em libertar a mente humana da servidão do corpo material transportando-a para os bits dos computadores e daí para o mundo interconectado da rede. Trata-se do sonho de uma ciberimortalidade, que vem acompanhado do desejo de onisciência, ou seja, de um intelecto global que teria acesso, através da rede, ao conhecimento do Todo.

O último aspecto diz respeito àqueles que sonham com uma comunidade global, sendo que o ciberespaço, em especial, seria um "lugar para o estabelecimento de comunidades idealizadas que transcendem as tiranias da distância e [seriam" livres de preconceitos de sexo, raça ou cor". Nesse caso, Wertheim nos lembra os casos de comunidades que são ou racistas ou agressivas ou preconceituosas em relação às mulheres, o que indicaria que as ciberutopias são tão ou mais fantasiosas que as utopias propriamente ditas.

Mesmo estando atenta a todos esses aspectos, a autora acredita que a noção de ciberespaço como rede de relações possa ser uma metáfora poderosa para a formação de comunidades melhores. Isto seria devido, basicamente, à possibilidade de compartilharmos nossas visões de mundo por meio desse espaço comum. E como ela mesma afirma: "Se o ciberespaço nos ensina alguma coisa é que os mundos que concebemos são projetos comunais que exigem responsabilidade comunal permanente".

Uma ausência importante a ser assinalada seria o silêncio de Wertheim sobre as relações atuais que permeiam a rede e que fazem dela um autêntico espaço de controle. Com suas rotinas de autenticações, identificações, senhas e logins, estratégias de criptografia, o ciberespaço real nos parece bem mais complexo que as visões religiosas de imortalidade e salvação que envolvem e possivelmente sempre envolverão em maior ou menor grau as atividades humanas.

Rogério da Costa é professor da pós-graduação em comunicação e semiótica do departamento de ciências da computação da Pontifícia Universidade Católica (PUC-SP).

Uma História do Espaço de Dante à Internet
240 págs., R$ 29,50
de Margaret Wertheim. Trad. Maria Luisa X. de A. Borges. Jorge Zahar Editor (r. México, 31, sobreloja, CEP 20031-144, RJ, tel. 0/xx/ 21/2240-0226).

https://www1.folha.uol.com.br/fsp/mais/fs0212200117.htm

Mais sobre Margareth Werthein
https://fisica2100.forumeiros.com/t1638-margareth-werthein-ela-esta-do-nosso-lado#9840

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Jonas Paulo Negreiros
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